Perspectivas da minha infância em Del Rei - Por Sebastião Milagres
Rua Descalça, vidraças quebradas.

Esta é a penúltima crônica da série "Perspectivas da minha infância em Del Rei."
Iniciarei pelas competitivas peladas nas ruas sem calçamento, onde nós jogávamos descalços.
A bola era de borracha e quicava mais que um Coelho, a outra era feita por uma meia de náilon e não quicava. Esta era enchida com pedaços de pano que originou o nome "bola de pano". As meias-calças eram surripiadas das irmãs ou até das mães dos : Pelés, Garrinchas, Zagalos...
Os gols eram feitos de pedras, para medir-los usava-se a técnica de três passos curtos. Portanto não existia travessões.
As partidas eram chamadas de quedas e o tempo de jogo eram marcados pelo resultado. Quem fizesse os gols primeiro do que foi combinado, antes da pelada ganharia o jogo.
Era considerado ponto de honra para o peladeiro quando se chutava o chão. Correr para dentro de casa lavar o "dodói" com água e sal e retornar ao jogo.
O jogo às vezes não chegava ao final ,não motivado por brigas, sim pelo barulho "crash" ou "tininin". Todos corriam para dentro das casas. Era o barulho de uma vidraça espatifando, ou o pior uma cristaleira quebrando dentro da casa do Seu Juca. (Já falecido)
Os times eram formados pelos times que torcíamos,
Flamenguistas contra Vascaínos.
Com alguns Botafoguenses e Fluminenses se juntando a um dos lados. As disputas não se limitava apenas às torcidas! Também havia grupos divididos pela cor, pretos versus brancos, também times formados por família contrárias para dar mais tempero à disputa esportiva. Os Giarolas descendentes de italianos, versus os Milagres de origem afro-brasileira. Sem chegar ao nível do ódio das famílias Montéquios e Capuletos. A rivalidade esportiva era saudável, e divertida , trazendo alegria e emoção para as peladas."Éramos todos amigos, sem preconceito de cor"
Saudoso eu pergunto por onde andarão os Giarolas: Zê da Paulina, Paulo do Quirino, Edson... E os Milagres: Nenésio, Marcos, Servúlo...
Alguns dos meus velhos amigos peladeiros, devem estar disputando peladas no céu.
Tudo isto aconteceu quando já éramos pré-adolecentes.
.Saudades da Minha Estrela Cintilante.
Exatamente um ano atrás nesta mesma data. O mundo desabou na minha cabeça.
Mas mesmo na dor, lembro-me dos 50 anos de amor e companherismo- três de namoro- que compartilhamos nossas "Bodas de Ouro."
Você sempre será lembrada e amada.
"Mesmo do Crepúsculo nasce a luz". ( Nietzsche)
Gratidão!
Sebastião Milagres
Bibliófilo/Cinéfilo/Musicômano
Escritor/Poeta. Fundador do Mov. Poético Parnaibano
Professor Aposentado de Xadrez.