PRIMEIRO FESTIVAL POLIESPORTIVO PARA PESSOAS TRANS É PROMOVIDO EM SÃO PAULO

Jogos Nix Trans acontecem no fim de agosto com expectativa de reunir mais de 3 mil pessoas, promovendo o esporte como ferramenta de inclusão e visibilidade

Agosto 4, 2025 - 13:45
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PRIMEIRO FESTIVAL POLIESPORTIVO PARA PESSOAS TRANS É PROMOVIDO EM SÃO PAULO

O esporte possui o poder de transformar vidas, mas para muitas pessoas trans ainda é um espaço marcado pela exclusão, violência, preconceito e invisibilidade. Foi pensando em mudar essa realidade que a Nix Diversidade, consultoria de diversidade, economia criativa e social, junto com coletivos parceiros anunciam a estreia dos Jogos Nix Trans, o primeiro festival poliesportivo do Brasil protagonizado por talentos trans. De 22 a 24 de agosto, o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa Marechal Mário Ary Pires, em São Paulo, será palco de uma programação diversa e vibrante, com o objetivo de promover a cidadania esportiva da comunidade trans.
 

O primeiro dia do evento poliesportivo será dedicado a palestras e rodas de conversa que vão dar voz às vivências, desafios, políticas públicas e conquistas da comunidade trans criando um espaço de escuta, troca e conexão. Nos demais dias, os jogos tomam conta com torneios exclusivos para pessoas e coletivos trans, e vivências abertas também para todas as pessoas aliadas da causa. A previsão é ter mais de 600 participantes nas modalidades como vôlei, futsal e corrida, com expectativa de mais de 3 mil pessoas ao longo dos três dias. Mais do que competição, os Jogos Nix Trans são um convite à inclusão, à diversidade e ao respeito. Um passo necessário para garantir que todo corpo tenha o direito de existir, jogar e vencer.
 

“Queremos chamar atenção para o fato de que pessoas trans têm o direito de ocupar quadras, campos e ginásios. Não só como atletas, mas verdadeiros protagonistas. Todo o evento é um convite para repensarmos o esporte como um espaço realmente coletivo e transformador”, afirma Fabrício Addeo Ramos, diretor da Nix Diversidade.
 

A expectativa é de tornar os Jogos Nix Trans um evento anual, que siga fortalecendo redes, inspirando novos coletivos e ampliando a presença de pessoas trans em diferentes ambientes do esporte. “Nossa proposta é garantir o direito ao esporte e ao lazer para pessoas trans e travestis, enfrentando as barreiras de exclusão e violência ainda presentes nos ambientes esportivos tradicionais. Ao reunir coletivos, atletas, praticantes e profissionais da saúde e da gestão esportiva, os Jogos Nix Trans também estimulam o debate qualificado sobre inclusão, fortalecendo redes de apoio e construindo referências positivas para a comunidade”, pontua Júnior de Lima Beserra, homem trans, coordenador de programação do evento e fundador do coletivo Spartanos.
 

Um movimento que nasce da própria comunidade

A ideia dos Jogos Nix Trans surgiu a partir de uma demanda da própria comunidade trans em São Paulo, identificada em conversas com coletivos parceiros da Nix Diversidade, como o Angels Volley e os Meninos Bons de Bola. Em anos de atuação, esses grupos mostraram que faltava mais do que inclusão simbólica, era preciso construir um evento genuíno no qual a comunidade pudesse viver o esporte com mais liberdade e pertencimento.
 

Essa construção também se apoia em dados que escancaram um abismo: segundo um estudo realizado pela Nix Diversidade em parceria com a Nike em 2022, 42,8% da população LGBTQIAP+ no Brasil não tem acesso ao esporte. Entre os principais motivos estão falta de companhia, falta de tempo e, principalmente, experiências de discriminação, assédio e violência – mais de 63% das pessoas LGBTQIAP+ já presenciaram ou viveram episódios de preconceito em ambientes esportivos.
 

“A maioria reconhece a importância do esporte, mas nem sempre se sente segura para praticá-lo. Os Jogos Nix Trans nascem justamente para contribuir para uma mudança real, com acolhimento, coragem e afeto, queremos transformar o esporte em um espaço de cura, resistência e autoestima”, comenta Fabrício.
 

Um festival de histórias reais

Em cada coletivo envolvido nos jogos, há histórias que inspiram. Como a de Thaís Tavares, que encontrou no vôlei o caminho para retomar os estudos, fortalecer sua autoestima e, ainda, estrear na Liga Francesa. Ou a de Mikaella Reis, que deixou a prostituição e hoje é técnica em enfermagem, educadora social, palestrante e prestes a formar em Gestão de Saúde Pública. Também há histórias como a de Paola Santos, que reconstruiu sua vida pessoal e profissional por meio do esporte, e As Leoas, parte do coletivo IMBB, o primeiro time de mulheres trans do futebol brasileiro.
 

“A presença de pessoas trans e travestis no esporte veio para ficar. A ciência médica já confirma que essa participação é justa, segura e viável, e cada vez mais a gestão do esporte é feita por quem reconhece que a inclusão de pessoas trans fortalece não apenas a comunidade, mas todo o ambiente esportivo. Quando o esporte se abre para a diversidade, todas pessoas ganham: pessoas trans e cisgênero compartilham experiências, aprendem mutuamente e constroem em conjunto uma sociedade mais justa, respeitosa e plural. O futuro do esporte é para todas as pessoas.” finaliza Júnior de Lima Beserra.