Memórias de uma amizade no Centro de Operações do Banco do Brasil. - Sebastião Milagres

     Eu trabalhava como desenhista exclusivo em uma empresa, que prestava serviços de instalação e manutenção de ar condicionado, para o Centro de Operações do  Banco do Brasil.

     No final de Dezembro de 1987, eu estava no Jardim da  imensa laje do Centro de Operações do Banco do Brasil  situado na Marginal Pinheiros, durante o meu horário de almoço. Aproveitando o sol e lendo um  livro de Albert Camus. O imenso jardim que cobria a laje, oferecia uma vista incrível do intenso movimento de veículos na Marginal Pinheiros, misturado com o barulho surdo dos trens  que transitavam na via férrea antiga  CPTM, altuamente Linha 9 Esmeralda que vai de Osasco a Varginha.

     Foi então que um vigilante do Centro aproximou-se de mim, com um sorriso tímido pedindo desculpas pelo incômodo, e  apresentando-se como Carlos A Marques  perguntou-me o que eu estava lendo.Mostrei-lhe o livro :" O Estrangeiro" do escritor francês Albert Camus, ele sorriu confessando que era um fã deste escritor. Nesta conversa se estendeu para outros temas: cinema, política, teatro... logo nos tornamos amigos.Apesar de trabalhamos em áreas diferentes foi incrível descobri interesses em comum, a nossa amizade floresceu rapidamente, e me fez refletir sobre a importância de não julgar as pessoas com base em suas

 aparências ou profissão.O que me faz lembrar de um lindo provérbio indígena dos Siouxs:" Pai não deixe que eu julgue o próximo, sem ter caminhado durante sete dias e sete noites sem ter usado seus mocassins." É fácil julgar alguém com base em aparências ou ações sem fazer uso da empatia. 

     Trinta e cinco anos se passaram desde que nós nos despedimos num McDonald's da Avenida Ipiranga esquina com a São João, após uma sessão de cinema no Cine Ipiranga que ficava ao lado. Mas a memória da nossa amizade permanece viva em mim.