Direita sai vitoriosa das eleições na Bolívia e leva dois candidatos ao segundo turno, diz órgão eleitoral
Será a primeira vez em 20 anos que a esquerda não vai governar o país; novo presidente será decidido em 19 de outubro

O primeiro turno das eleições presidenciais na Bolívia, neste domingo, terminou com uma vitória da direita, que levará dois candidatos ao segundo turno, segundo o resultado da contagem rápida do órgão eleitoral, que confirma as pesquisas de boca de urna da Ipsos-Ciesmori e da Captura Consulting. Rodrigo Paz, senador de centro-direita pelo estado Tarija e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), surpreendeu ao vencer o primeiro turno com 32% dos votos. Em segundo lugar ficou o ex-mandatário Jorge "Tuto" Quiroga, da direita conservadora, que obteve 26%.
O milionário Samuel Doria Medina, favorito em todas as pesquisas até uma semana atrás, terminou em terceiro, com 20%. Esta será a primeira vez em 20 anos que a esquerda não governará o país, afundado em uma profunda crise econômica e sob o fantasma do ex-presidente Evo Morales (2006-2019), que, impedido de disputar as eleições, promoveu uma campanha em prol do voto nulo.
Na sequência ficaram o candidato de esquerda Andrónico Rodríguez (8%), que ex-discípulo de Morales; Manfred Reyes Villa, da aliança de centro-direita APB-Sumate (6%); e o candidato governista Eduardo del Castillo (3%), ex-ministro do atual presidente Luis Arce, que decidiu não disputar a reeleição devido a baixa popularidade. Os demais candidatos não chegaram a 2%.
A vitória de Paz foi a grande surpresa da eleição. Nenhuma sondagem apontou o favoritismo do senador, que cresceu no exílio devido à perseguição sofrida por seus pais durante as ditaduras militares. Pesquisas anteriores indicavam a liderança de Doria Medina ou um mesmo um empate técnico entre o ex-presidente Quiroga e Doria Medina, com o senador aparecendo com menos de 10% das intenções de voto.
Vestindo camisa branca e sandálias, o ex-chefe de Estado, de 65 anos, foi escoltado por dezenas de camponeses que formaram um círculo humano para garantir sua segurança.
— Desta vez vamos votar, mas não vamos eleger — disse ele, em referência ao fato de estar judicialmente proibido de concorrer a um quarto mandato por decisão do Tribunal Constitucional.
As urnas foram fechadas às 16h do horário local (17h em Brasília). Segundo o presidente interino do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Óscar Hassenteufel, a jornada eleitoral transcorreu em tranquilidade, destacando que apenas incidentes isolados foram registrados e que nenhum deles alterou o andamento normal do processo.
O episódio mais grave ocorreu com o candidato de esquerda Andrónico Rodríguez, da Aliança Livre. Logo após votar na província de Carrasco, na região cocalera do Chapare, um reduto de Morales, Rodríguez foi alvo.
Mais de 7,9 milhões de bolivianos foram convocados a votar para escolher o novo presidente e renovar os 166 membros da Assembleia Legislativa. O país atravessa uma crise econômica severa, com inflação anual próxima de 25%, falta de combustíveis e escassez de dólares. O cenário aprofundou a rejeição ao MAS, no poder desde a eleição de Morales em 2005.
— A esquerda nos fez muito mal. Quero mudança para o país — disse a aposentada Miriam Escobar, de 60 anos, à AFP, após ser a primeira a votar em uma escola no sul de La Paz.
Segundo a cientista política Daniela Osorio Michel, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais, a demanda social vai além do debate ideológico.